terça-feira, 5 de outubro de 2010

Pela Última Vez

O álcool se tornara seu melhor companheiro. Amigos? Passaram a estar em segundo plano. Nada mais lhe importava. Decepções era a única palavra que definia seu passado, até um segundo atrás. Suas miragens transmitiam-lhe o falso prazer gerado a partir do que ele não queria sentir, mas em seu subconsiente, era a vida paralela que ele estava se propondo a fazer parte.

A solidão havia tomado conta do seu eu. Às 4 da manhã, sozinho em seu quarto, abraçado a uma garrafa de vodka barata, lá estava ele, deitado em seu travesseiro, chorando sem um ombro para lhe confortar. Reputação? Dignidade? Há muito ele não sabia o significado; autoconfiança? Nunca soube o que era, além da definição que os dicionários o ensinara.

Em meio à escuridão proporcionada pela cor escura das paredes de seu quarto e pela janela fechada, impedindo a circulação do ar, ele nao conseguia se desprender daquela garrafa. Suas lembranças o consumiam, na implícita vontade de abandonar todo o nada já conquistado por ele, na implícita vontade de voltar a ser aquele menino inocente cujos olhos brilhavam ao sorrir.

Àquele rapaz, nada restava. Irritado com sua impotência perante a seus irrealizáveis desejos, o silêncio se transformara em gritos, que clamavam por uma segunda chance. De repente, uma luz branca era vista, e todo o barulho gerado por seus gritos se dissipara. Ele sentia algo, ouvia algo, enxergava algo, mas não distinguia uma coisa da outra.

Quando voltou a si, pôde perceber que tudo não se passara de um pesadelo. As vozes que ele ouvia eram seus pais, chamando-o. O toque que ele sentia, era a mão de seu pai, desesperado, batendo-lhe na face, na tentativa de voltar a si mais rápido, e a luz que ele enxergava era aquela da qual seus pais o impediram de ir.

E o brilho nos seus olhos voltou a ser visto. E pela última vez, ele chegou perto de uma garrafa de bebida. Pela última vez, ele se contentou com o que tinha. Pela última vez, ele se desculpou por todos os erros. Pela última vez, ele declarou seu amor pela pessoa que nunca o deu atenção, novamente, em vão. E pela última vez ele suspirou, quando pela última vez jogou-se da cobertura de seu prédio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário