quarta-feira, 24 de março de 2010

O Último Silêncio

Solitariamente caminhava aquele garotinho à margem de um rio, com um olhar de decepção, e, à passos lentos, ziguezagueava. Ao me deparar com aquela cena, fiquei observando de um ângulo que não pudesse ser visto por aquele menino, curioso por ver o que ele faria. Em silêncio, fiquei por uns cinco minutos olhando o garoto ir e vir, sempre pela beira da margem do rio, como se pensasse na vida. Fiquei imaginando o que motivara - ou desmotivara - aquele menino a estar ali, à tarde, sob sol forte, vagando tristemente perto daquele rio.
De repente, fui surpreendido por um senhor, bem idoso mesmo, que não sei dizer de onde surgiu. Como se tivesse lido meus pensamentos, o velhinho prontamente disse: "Olá, meu jovem. Eu sei que você não me conhece, mas eu lhe conheço melhor que você mesmo. Não tenha medo de mim, não pretendo lhe machucar nem assustar."
Fiquei confuso, e não me permiti decodificar as palavras ditas a seguir, pelo velhinho. Voltei a mim quando o idoso tocou meu braço, ainda falando, e então, voltei a entender suas palavras: "[...] e você deve estar se perguntando: quem é aquele menino ali? Por quê ele está vagando à beira desse rio tão calmo, indo e vindo?"

Pude perceber um sorriso malicioso e ao mesmo tempo falso no rosto daquele idoso, que já não me assustava mais, pois de certa forma me transmitia calma e paz. Respondi que realmente era no que eu estava pensando, e antes que eu me atrevesse a perguntar de onde aquele senhor surgira, ele tomou a palavra: "aquele era você, com seus 15 anos, ao ter sua primeira decepção amorosa, lembra?"
Aquela cena, de repente, como num filme, começou a se acelerar. Várias imagens me vieram a cabeça relacionadas àquela época da minha vida, a qual eu me esquecera que um dia vivi. Lembrei-me daquele dia no qual desisti de vez de amar alguém, por ter visto a pessoa que eu amava partindo, e ter ficado impotente, diante daquela situação, no dia que enfim tomei coragem para expressar o que eu sentia, o dia que era tarde demais.
Petrifiquei-me, e, gélido, pude perceber então que aquilo tudo não era real, e não passava de mim lembrando de fatos da minha vida, em meu leito de morte, solitário, por ter tido medo de chorar por amor e lutar pelo amor da pessoa que eu sempre amei, mas nunca soube disso. Então, antes de desaparecer, aquele idoso me disse que a unica pessoa que mereceria minhas lágrimas era aquela que jamais me faria chorar. Adormeci, profundamente, no último dos meus cochilos, sonhando com um infinito inalcançável, que, àquela altura, já estava mais próximo. E no silêncio gerado ao meu redor ecoava canções de ninar, que seriam as últimas que eu ouviria.

3 comentários:

  1. eu simplesmente LOVEI demais!! Quem diria, pessoas chatas também escrevem!! hauhuahuahuahuahuhauhauhua ♥

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  2. Todo o texto, de minha autoria hehehehe... Vou começar a acreditar que eu escrevo bem :P

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